quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Jean - Luc Thérier

Antes de começar a crónica deste francês, nascido em Hodeng- au-Bosc, a sete de Outubro de mil novecentos e quarenta e cinco, hoje com setenta anos, tenho que contar uma história passada comigo no ano de mil novecentos e setenta e nove à porta do antigo Hotel Estoril Sol.
Em 1969 fez o 3º lugar na Coupe Gordini em Le Mans
1969 em Le Mans com o Alpine A210 ficou em 10º lugar
O meu amigo Alexis Bulgari disputava esse ano o Rallye de Portugal com o seu Opel Kadett GTE, e estávamos todos hospedados no referido hotel, quando por volta da meia noite vim à entrada principal fumar um cigarro e apanhar um pouco de ar. Eis quando começo a ouvir na marginal do lado de Cascais para Lisboa o som inconfundível dos carburadores e escape de um carro potente, que passava de caixa a um ritmo alucinante. De repente vejo aparecer a uma velocidade razoável um Toyota Celica 2000 todo branco que se encosta na faixa da direita da marginal e com um golpe de volante, começa a descrever aquele "gancho" improvisado que era as quatro faixas da marginal (duas Cascais/Lisboa e do outro lado o inverso) e a entrada para a recepção do Estoril Sol, sempre numa derrapagem ao estilo drifting , e ficou parado milimétricamente encostado às escadarias da entrada onde eu estupefacto olhava, com os olhos bem abertos, para tudo aquilo. Do Celica branco de treinos, abre-se a porta do navegador, Michel Vial, e do colo do mesmo que ria, assim como o piloto, Jean-Luc Thérier, que também se ria até não haver amanhã, sai com um ar completamente alucinado e a correr escadaria acima, uma linda francesa dos trinta e tal anos, que só gritava: "c´est fou ... c´est fou ... c´est fou" !!!
Em 1973 no Rallye Tap conseguiu uma vitória.
No mesmo ano aqui na Acrópole que também venceu
Jamais esquecerei estas imagens, e era mesmo assim a filosofia deste piloto ... primeiro, acima de tudo a satisfação pessoal em tudo o que fazia.
Tendo começado aos quinze anos a disputar provas de karting, tendo chegado mesmo a campeão da normandia aos dezoito anos. Aos vinte e um anos começou nas provas de estrada, e como estava ligado profissionalmente à Citroen, pois tinha uma concessão em Neufchâtel-en-Bray, começou com modelos pouco competitivos da marca, até que resolveu em mil novecentos e sessenta e nove,  fazer a "coupe gordini", com os Renault R8, ficando na final desse ano, disputada em Le Mans, com o 3º lugar. Começava aí uma grande ligação com a marca francesa.
Na sua passagem para os rallyes, fez parte da equipa que foi o terror dos rallyes mundias, a Alpine Renault com os A110 primeiro com motores 1600cc e depois com motores 1800cc. Ficaram conhecidos pelos "Mosqueteiros" ele, Nicolas, Darniche e Andruet, que deram o título de marcas à Alpine Renault em mil novecentos e setenta e três. Nessa altura só havia título para as marcas, porque se houvesse para os pilotos, Thérier teria sido campeão.
Com o Porsche 911 SC venceu a Corsega em 1980
Com este Porsche deu festival até desistir em Portugal 1981
Ao mesmo tempo esteve também com a Alpine nas 24 horas de Le Mans em mil novecentos e sessenta e sete, oito e nove com os modelos M64, A210 e A220. Apenas em sessenta e oito acabou a clássica prova num 10º lugar da geral, acompanhado de Bernard Tramout com o modelo A210. Voltou mais tarde em mil novecentos e setenta e sete com o A310, mas voltando a desistir.
O ano de mil novecentos e setenta e três foi um grande ano para Thérier e para a Alpine, Jean-Luc ganhou nesse ano o rallye Tap, rallye Acrópole e rallye de Sanremo. Voltou mais tarde a ganhar outra prova do campeonato do mundo, sete anos depois em mil novecentos e oitenta, na Volta à Corsega com um Porsche 911 SC dos irmãos Alméras.
Dos quarenta e sete rallyes disputados no campeonato do mundo, Thérier ganhou quatro mas teve inúmeros pódiuns.
1980 Portugal/gancho da Peninha equipa Toyota
Foi piloto da Alpine Renault como frisámos, guiou também para os irmãos Alméras com os seus Porsches no campeonato francês e em algumas provas do campeonato do mundo, assim como para a Toyota com os modelos Corolla e Celica e com a Renault e os R5 turbo oficiais ou semi oficiais como o seu último rally disputado, o Monte Carlo de mil novecentos e oitenta e quatro.
O mais        impressionante em Jean-Luc Thérier era a satisfação que tirava do acto de conduzir, era um prazer para ele guiar depressa, fosse qual fosse o carro, o "gozo" era sempre máximo.
Em 1979 com um VW Golf GTi no Monte Carlo
O seu grande problema era a preparação das provas que com o aumento de competitividade entre as marcas, aquela parte "romântica" dos rallyes antigos, os longos almoços e jantares bem regados, as partidas entre pilotos e os treinos em conjunto, como de uma romaria se trata-se, tinham o seu fim anunciado, e entravamos na época dos muitos testes, regimes alimentares para os pilotos, etc ... etc.
Talvez um grande título nunca lhe tenha sorriso, precisamente por isso, basta dizer que o seu rallye favorito era o RAC e porquê?
O seu último rally, Monte Carlo 1984 com Renault R5 turbo
Pois porque foi secreto durante muitos anos, não havia reconhecimentos, era chegar e guiar na base do instinto e sem dúvidas era aqui que Thérier  pura e simplesmente era... o maior !!!
No entanto foi por 3 vezes campeão de França, ou em terra como em oitenta com um Toyota Celica, como em asfalto no seu ano de ouro setenta e três no Alpine A110 e oitenta e dois com um Renault R5 Turbo.
A última aventura Dakar 1985 - Citroen Visa 1000 pistas
Jean-Luc era um piloto muito completo, andava depressa no asfalto, na terra e na neve, com tracções à frente, com tudo atrás, com carros de muita potência, com carros de baixa potência,  por isso ser procurado pelas marcas para completar as equipas, pois conforme já frisámos atrás sem ser o piloto de ponta, por não querer seguir a tal "ditadura" dos novos tempos, era aquele que completava a equipa sem ser preciso ir buscar especialistas para a neve, ou para as provas de asfalto ou para as de terra, ele estava lá para todas.
Claro que com o seu gosto pela aventura, uma das provas mais mediáticas desses anos, o Dakar, começava a chamar por ele. O fascínio da aventura, da condução de improviso fez com que Jean-Luc Thérier aceitasse o convite para guiar um Citroen Visa 1000 pistas no Dakar !!!
Só mesmo ele para um desafio desses, quando já as marcas se faziam representar com protótipos de elevado nível de preparação.
Palavras para quê !!!  É Jean-Luc Thérier nos dias de hoje
Infelizmente nesse ano de mil novecentos e oitenta e cinco na 3º étape da prova um violento acidente acabou com a carreira de Jean-Luc Thérier ao provocar graves lesões irreversíveis no braço esquerdo.
Ainda hoje com setenta anos, Jean-Luc Thérier acompanha alguns rallyes mantendo sempre a boa disposição que teve durante a sua carreira.
Uma das coisas que mais me impressionou foi na pesquisa que fiz para esta crónica, vi centenas de fotos dele e uma constante em todas as fotos em que se consegue ver bem a cara ... é o seu ar de satisfação, de quem vai mesmo a "curtir a cena" ... quem vai mesmo a "gozar" o momento.
Não deveria ser sempre assim?
Por isso Jean-Luc Thérier, aquele que já tinha visto em várias classificativas passar sempre a fundo, aquele que vi fazer aquela entrada triunfal no Estoril Sol, será sempre o piloto de rallyes que mais gostei até hoje, analisando vários aspectos que não só o palmarés.
"C´est fou hem" !!!





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